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Da luta pela terra à produção de alimentos saudáveis

Casal veio do interior para ajudar irmão, que planta arroz, a cuidar de hortaliças - Foto: Fernando Dias

Casal veio do interior para ajudar irmão, que planta arroz, a cuidar de hortaliças – Foto: Fernando Dias

 

Na década de 1980, os embates por direito à terra ceifaram vidas mas não o sonho de milhares de camponeses brasileiros de produzir alimentos de qualidade e sem agrotóxicos.

Algumas marchas iniciadas em 1989 resultaram em diversos assentamentos espalhados por todo o País. Em um deles, a dez quilômetros de Porto Alegre, em Eldorado do Sul, vivem 72 famílias em 2,5 mil hectares cedidos pelo Estado sob forma de concessão de uso.

Vêm do suor diário de homens e mulheres as hortaliças e o arroz – tudo orgânico – encontrados às quartas-feiras à tarde e sábados pela manhã na feira da agricultura familiar no pátio da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio.

A dificuldade daquele longínquo início dos anos 90, quando começaram a ocupar área do Instituto Riograndense do Arroz (Irga) até então arrendada a grandes produtores, em nada se parece com a situação atual.

Filhos formados em universidades públicas e privadas, casas com belos jardins floridos, carros nas garagens, porém, não caíram do céu: numa área onde não havia árvores e estradas tudo lembrava, um pouco às avessas, o simbólico oeste brasileiro antes dos gaúchos o desbravarem há 40 anos.

Tirando as crianças, que frequentam escola também fruto de luta dos agricultores, o trabalho move a comunidade, organizada numa espécie de agrovila. O assentamento foi batizado de Integração Gaúcha.

Lá, eles têm cooperativa de arroz e pão. Dependendo do tipo de produção, as terras são emprestadas uns aos outros.

Dividida a área total, as famílias ficaram com 17,5 hectares cada. O tipo de cultura também é compartilhado de acordo com a vocação: gado leiteiro, arroz e hortaliças. Mauro Cibuslki, 42 anos, optou pelo arroz orgânico. Planta cem hectares.

O destino em grande parte são ações governamentais como Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Uma parte vai para as feiras.

O agricultor se divide entre o campo e o movimento social. O irmão e a cunhada, Darci e Iracema Rubas, moram na casa ao lado.

Também vindos do interior, de Erval Grande, conseguiram um pedaço de terra cedido por Cibulski para cuidar das hortaliças, já que todo o processo orizícola lhe toma muito tempo.

Do fumo e da soja, nos quais se utilizam defensivos agrícolas, passar a cultivar orgânicos lhes deu certeza de contribuir com a saúde pública, em especial a dos clientes fieis da feira do Menino Deus. 

 

Texto: Daniel Cóssio/Seapa

 

 

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